Quais as principais diferenças entre fumar e comer maconha?
Três fatores elementares influenciam nos efeitos da combustão e da ingestão de maconha: a metabolização, a velocidade e a duração da onda. E nessa coluna quero te explicar cada uma delas.
Há alguns dias li, uma frase do Dr. Sidarta Ribeiro: “A cannabis está para as plantas assim como o cachorro está para os animais”. Quem já me conhece sabe que eu amo maconha e amo cachorros (tanto que tenho cinco). Essa analogia deixa bem evidente a relação íntima e milenar que a humanidade desenvolveu com a nossa amada planta.
Existem indícios de que já consumíamos maconha há pelo menos 12 mil anos, na Ásia e Oriente. Ela era usada tanto para fins medicinais quanto sociais, além de cerimônias religiosas.
A utilização da cannabis em forma de alimento foi rapidamente popularizada naquela região. Tanto que, ainda hoje, é bastante comum encontrar por toda a Índia pequenas lojas onde é possível tomar um saboroso Bhang Lassi, bebida com leite infusionada com cannabis e várias especiarias.
Aqui no Ocidente foram nos baseados, blunts, pipes, bongs e vaporizadores que o uso da maconha mais se disseminou, talvez pela facilidade em consumir desta forma e, muito provavelmente, pelo caráter marginalizado que se deu à maconha desde o começo da campanha proibicionista. Afinal de contas, sabemos que aqui no Brasil não existem estabelecimentos legais onde se pode usar maconha.
Mas, com a regulamentação e legalização em diversos países, o consumo dos comestíveis cannábicos está em amplo crescimento. Diversas empresas estão fazendo grandes investimentos nessa indústria e, ao visitar lugares onde esse mercado já é uma realidade, é possível encontrar uma gama enorme de comestíveis com maconha.
E aí talvez você se pergunte por que isso está rolando, já que tem muita gente que fuma e nunca nem sequer pensou em comer maconha. E é claro que existem respostas para esta pergunta. A grande verdade é que a culinária cannábica é uma excelente forma de consumir maconha, reduzindo os danos gerados pela combustão e inalação da fumaça. Sendo assim, a forma de consumo ingerida é mais atraente para usuários que não podem ou não gostam de fumar, além de ser mais discreta e fácil de consumir, o que acaba normalizando o uso e desmistificando diversos preconceitos.
Já vi muitos casos de pessoas que nunca tinham chegado perto de maconha na vida, tinham uma ideia totalmente errada, mas se permitiram experimentar comestíveis e mudaram a cabeça. Mas, você sabe quais as principais diferenças entre inalar e ingerir a cannabis na forma de alimentos?
Então bora lá, existem três fatores elementares: a metabolização, a velocidade e a duração da onda.
Em primeiro lugar, quando fumamos um baseado, os canabinoides são metabolizados pelo nosso pulmão. Eles atravessam os alvéolos pulmonares, entram na circulação e atingem o cérebro em minutos. Mas quando ingerimos o famoso brisadeiro, por exemplo, a metabolização dos canabinoides é feita pelo fígado. Ou seja, antes de absorvê-los, nós precisamos fazer o processo digestivo, para que só depois eles alcancem o nosso fígado.
Aí já fica evidente a segunda diferença entre comer e fumar, que é a velocidade em que sentimos os efeitos. Quando nós damos aquele primeiro tapa no beck, a onda aparece em minutos, bem rapidinho. Mas quando comemos o brisadeiro, os primeiros efeitos podem demorar, no mínimo, trinta minutos para aparecer. Em alguns casos, a pessoa só começa a sentir os efeitos depois de duas horas, duas horas e meia. É lógico que isso varia de pessoa pra pessoa, depende do metabolismo, dosagem, da tolerância e até mesmo de como a pessoa se alimentou naquele dia.
Nesse quesito, até parece que os comestíveis ficam em desvantagem, né? Mas antes do veredito final, devemos considerar a terceira grande diferença, que é a duração da onda. Quando fumamos maconha, os efeitos duram por volta de 1 hora e meia. Mas, ao nos alimentarmos com maconha, os efeitos podem durar de 6 a 12 horas. E existe uma explicação científica pra isso.
O THC (delta-9-THC) é uma molécula formada por 9 partículas. Ao ser metabolizado pelo nosso fígado, a estrutura molecular do THC recebe mais uma molécula de oxigênio e uma de hidrogênio. Isso leva a criação do 11-Hidroxi-THC, um metabólito muito ativo em termos farmacológicos, conhecido por seus efeitos sedativos e psicoativos.
Ou seja, o que acontece é que o THC acaba se transformando em uma molécula maior, o que faz com que o nosso metabolismo demore mais para absorver, processar e eliminar. Isso acaba sendo uma das grandes vantagens de consumir maconha em forma de alimentos, principalmente nos casos medicinais, em que a pessoa precisa de um efeito prolongado dos benefícios dos canabinóides.
E com certeza também agrada às maconheiras e maconheiros mais antigos que nem eu, que querem ter brisas mais intensas e duradouras, mas sofrem com a resistência. Então, agora que você já sabe as diferenças e benefícios dessa forma de consumo, que tal se aventurar na cozinha? No meu Instagram e no meu canal do Youtube existem várias dicas, receitas e informações a respeito da culinária cannábica — e no meu curso on-line explico tudo isso e mais.
Bora colocar a maconha no prato?